17 maio 2006

A aventura dos autocarros

Hoje e ontem assisti a dois episódios nos autocarros da Carris que me fizeram recordar o quão inebriante é essa aventura diária de andar de autocarro, sobretudo em Lisboa. Sim, porque é uma verdadeira aventura, cheia de obstáculos.
A primeira prova de fogo é logo na fila para o autocarro. Quem é que das pessoas que andam de autocarro nunca assistiu a um(a) espertinho(a) que ignora a fila de meio quilómetro que está à frente dele(a) para entrar no autocarro, passando à frente de todos? Pois, quase todos. A maioria das pessoas ignora simplesmente, mas há sempre os que reagem e lá se ouve: "Olhó este! Deve-se achar mais esperto que os outros. Não viu que a fila acaba lá atrás?". Seguem-se pelo menos 5 minutos de comentários do género. Isso na melhor das hipóteses. Há sempre a hipótese do visado responder ou de outras pessoas entrarem na conversa e aí há conversa para todo o percurso.
Bem, uma vez dentro do autocarro há outro obstáculo: a travessia do autocarro até um possível lugar. Se o autocarro vai vazio e o motorista acelera (o que é normal porque estão sempre atrasados), mais parece que aquilo é um barco e o percurso não consegue ser feito sem umas quedas para cima de quem já vai sentado. Se por acaso o autocarro vai cheio, seguem-se uma infinidade de encontrões. Além disso, há sempre umas senhoras que só podem ter um trauma qualquer e que acham que todos os homens que passam se roçam nelas de propósito. Seguem-se as ofensas, o muito ouvido "depravado", entre outras, e as ameaças para se o acontecido se voltar a passar. Tudo isto perante o ar incrédulo do desgraçado que teve o azar de passar demasiado próximo da sra.
À travessia segue-se a procura de um lugar. Isto é a etapa que provoca mais atrito entre os viajantes. Há sempre umas senhoras de idade que só gostam de fazer de mais desgraçadas do que são e choram e berram que ninguém lhes dá lugar, que antigamente não era assim e por aí adiante. Tudo bem que algumas pessoas deviam ir sentadas devido à debilidade com que se mexem, mas regra geral essas são as que menos protestam por um lugar. E como senão bastasse o barulho que fazem por um lugar, há algumas que se fazem esquisitas e não se contentam com um qualquer lugar, querem um especifico. Gostam ainda de barafustar quando uma criança pequena vai sentada num banco, "ocupando um lugar quando podia muito bem ir ao colo", ainda que a acompanhante da criança seja outra pessoa de idade ou a mãe que tem outra criança ao colo. São ainda incapazes de se levantar quando entra alguém realmente necessitado. Isto faz com que essas pessoas me irritem bastante, sendo muito mais fácil levantar-me para uma sra. com uma criança ao colo se sentar ou para alguém muito carregado puder descansar do que para deixar alguma dessas sra's que se acham inválidas se sentar.
O percurso do autocarro é por si só um enorme obstáculo: ora é o trânsito, ora são os carros mal estacionados ou às vezes é mesmo o percurso que não é fácil. Quem nunca experimentou andar de autocarro dos Restauradores ao Marquês não sabe o que anda a perder! É mais fácil enjoar nesse curto percurso do que de barco.
Por fim, temos a sáida do autocarro. Aqui temos sempre umas aves raras que se põe à porta, ainda que só saiam daí a 3 ou 4 paragens, dificultando a saída a todos os outros que tencionam sair antes. Gosto particularmente de um tipo de aves destas que, além de se pôr na porta muito antes de sair, ainda o faz carregado de sacos e mala.
Além de tudo isto, no Verão há sempre o ar impregnado a suor e um calor insuportável para o qual contribuí o facto dos sr.'s da carris não ligarem o ar condicionado. De Inverno são os guarda-chuvas molhados que encharcam tudo e todos, é o ar repleto de microrganismos potencialmente patogénicos (vulgo: micróbios) para a nossa saúde.
Enfim... Quem anda de Metro não sabe o que perde. Certamente que não há toda esta agitação, toda esta aventura numa viagem de Metro.

1 comentário:

Daniela disse...

Por isto é que ando de metro! Não há filas, não há aceleras (no geral :p) etc. Só tem pedintes aos molhos. beijinhos