17 dezembro 2006

Interrail - Parte 8: O regresso

À chegada a Copenhaga já os meus dentes me estavam a dar dores horríveis. Infelizmente chegámos tarde e já não havia muito a fazer a não ser comer qualquer coisa e esperar pelo dia seguinte para ir ao dentista. Nessa noite quase não jantei e passei, provavelmente, a pior noite da minha vida. Só me deixei dormir perto das 4h da manhã, quando finalmente cedi ao cansaço, porque as dores não passavam com nada. Na manhã seguinte o pessoal do hotel foi impecável e não descansaram enquanto não me arranjaram um dentista e deram-me uns comprimidos que me retiraram grande parte das dores por algumas horas.
A manhã foi passada a rever Copenhaga e a comprar alguns souvenirs já que na primeira visita não tinhamos comprado nada. Ao início da tarde fui à dentista. A senhora foi impecável. Viu os dentes todos e só achou uma cárie e pensou que era dali. Arranjou-me o dente e deu-me um comprimido para as dores. Pagámos uma pequena fortuna e fomos dar mais uma volta pela cidade. Ao fim de 2 horas estava de volta ao consultório porque as dores não me tinham passado. A senhora voltou a ver os dentes todos, tirou-me radiografia aos dentes do siso e achou que podia ser dali. Deu-me uns comprimidos para as dores achando que a causa seriam os dentes do siso a tentar nascer e que acabaria por passar. De facto, as dores abrandaram nas horas seguintes e decidimos partir para Amsterdão ao fim da tarde.
Durante a viagem conhecemos um casal, ele australiano e ela de Gales, com quem estivemos viajamos até Amsterdão. Ficamos com vontade de conhecer a Austrália e também o leste europeu por onde eles tinham andado e que descreveram como sendo locais a não perder. Depois de comermos qualquer coisa o australiano decidiu arranjar um compartimento mais vazio onde se pudesse esticar e dormir e nós os 3 lá nos arranjamos no nosso compartimento. A meio da noite tivemos de nos levantar porque entrou um senhor alemão, a quem nós tentámos, em vão, explicar em inglês que se estava a sentar no lugar do australiano. O sr. não percebia uma palavra de inglês e devia achar-nos muito idiotas por não percebermos alemão, passando o tempo a dirigir-se a nós em alemão.
Durante a noite as dores de dente regressaram mais fortes que nunca. O resto da viagem foi muito má. Chegámos com atraso à estação onde tinhamos de mudar de comboio e tivemos de esperar 1h30 pelo comboio seguinte para Amsterdão. A plataforma onde saímos era enorme e descemos pelas primeiras escadas que encontrámos. Saímos num corredor largo, de um lado eram entradas para as várias plataformas da estação e do outro eram cafés e pequenas lojas. A meio havia uma entrada para o metro. Achámos estranho não vermos bilheteiras nem nada relacionado com a estação. Bancos também não havia. Ainda voltámos a subir à plataforma, mas não descobrimos nada. O australiano acabou por esticar no chão uma das esteiras de campismo deles para nos sentarmos e ali ficámos 1h30 sem perceber o que raio se passava na cabeça dos alemães para fazerem uma estação daquelas e menos ainda porquê que toda a gente que passava ficava a olhar para nós como se fossemos aliens. Quando voltámos a subir para a plataforma e de percorrermos uma grande extensão de plataforma fez-se luz: tinhamos saído para o lado errado. A estação de comboios era do lado oposto ao qual nos tinhamos saído e como não percebiamos nada de alemão não tinhamos compreendido as indicações das placas.
Finalmente apanhámos o comboio para Amsterdão e a primeira meia hora deve ter sido a pior que me lembro. O comboio ia cheio e nós tivemos de ficar no corredor, apertadíssimo, entalados entre a parede, malas e uma cambada de putos que entrou na estação seguinte e que entupiram literalmente o corredor durante uns bons 15 ou 20 minutos enquanto tentavam resolver problemas de lugares. Os revisores estavam passados, ninguém conseguia passar ali. Foi caótico. Ainda viajámos no corredor algum tempo. Entretanto o australiano veio chamar-nos porque tinham encontrado uns lugares. Os meus dentes estavam em plena guerra comigo.
A chegada a Amsterdão foi alucinante. A primeira coisa que fizemos foi ir ao turismo para perguntar informações sobre dentistas e descobrir um mapa. Os mapas eram pagos e os 2 andares do posto de turismo estavam a abarrotar de gente a tentar marcar pousadas e hóteis. Aqui nos despedimos do casal que teve de ficar à espera pois não tinham alojamento marcado. Nós, sem mapa e desconhecendo Amsterdão, decidimos apanhar um táxi. A viagem foi irreal... Não pensei chegar viva ao hotel. Quando chegámos nem queriamos acreditar.. A praça onde o hotel ficava era só bares e restaurantes, a entrada era feita por um porta minúscula, à qual se seguiam umas escadas estreitas, onde as mochilas passaram por milimetros, inclinadas, daquelas que se tem de subir quase de gatas. A recepção era um balcão rodeado por portas que davam nem sei para onde. À nossa frente alguém se queixava que o quarto não tinha janelas.. Quando chegou a nossa vez, pediram-nos para pagarmos logo. Para ajudar, não aceitavam cartões. Lá fui eu procurar uma caixa multibanco. Sem conhecer nada, andei às voltas e acabei por perguntar numa livraria onde a sra. foi bem antipática e me deixou na mesma. Acabei por encontrar uma caixa, mas não consegui levantar dinheiro com nenhum dos cartões. As dores estavam cada vez piores. Voltei para o hotel quase em colapso. Acabou por ser o André que conseguiu levantar dinheiro. Enquanto isso, descobri que as empregadas de limpeza e o outro funcionário do hotel eram portugueses. O homem foi impecável comigo e assim que soube do meu problema fez logo uns telefonemas para me conseguir indicar um dentista.
Já com o quarto pago e sem mochilas a pesarem, fomos procurar o dentista. Encontrar um dentista aberto a uma sexta em Amsterdão deve ser missão impossível. Acabámos por entrar numa farmácia e as senhoras indicaram-nos um número de emergência para onde telefonámos e que nos arranjou um denstita nas próximidades da farmácia para essa tarde. Agradecemos às senhoras da farmácia e fomos dar uma volta. Lá tivemos de comprar um mapa de Amsterdão porque doutra forma nunca mais nos orientavámos. Descobrimos que estavamos perto da casa da Anne Frank e fomos até lá. As filas à porta dissuadiram-nos de tentar entrar, bem como o preço que pediam pela entrada. Demos uma volta pelas redondezas e fomos almoçar.


À tarde lá fomos para o dentista. Mais uma vez apanhei uma senhora impecável. Desta vez já sabia qual era o dente problemático pois nem lhe conseguia tocar. Ao fim de 2 radiografias a senhora concluiu que eu tinha não, mas dois dentes com uma infecção e um terceiro com cárie, tudo bem escondido porque os dentes por fora estavam impecáveis. Teve de me começar a desvitalizar o dente que estava pior, mas avisou-me que o outro podia começar a dar dores a qualquer momento. Depois de pagar nova fortuna e em pânico, sem saber quando é que o outro dente ia dar problemas, achei melhor voltármos o mais depressa possível para Portugal. Fomos ao hotel tomar banho e fomos até à estação de comboios. Descobrimos que não havia bilhetes para o dia que queriamos e que tinhamos de voltar no dia seguinte logo de manhã.
Aproveitámos o resto do tempo para passear por Amsterdão e ver algumas lojas de souvenirs, descobrindo que metade das coisas que se vendem estão associadas ao consumo de droga. Descobrimos também que Amsterdão deve ser o paraíso da comunidade gay, há bandeiras com arco-íris em tudo quanto é lado. A cidade estava cheia de gente e nota-se que é uma cidade muito internacional. Tivemos pena de não visitar algumas das atracções da cidade, mas por outro lado o ambiente não nos seduziu e acabei por não ter muita pena de não ver melhor Amsterdão.

De volta ao hotel, tentámos explicar que tinhamos de ficar menos uma noite. O gerente disse-me que como a reserva era de 2 noites no mínimo, não podia fazer mais que tentar vender o quarto e, se conseguissem, que me devolviam o dinheiro.
Já no quarto o André não aguentou o cachorro que tinha comido em frente à estação e vomitou tudo. Comigo cheia de dores ainda e com ele mal disposto, quando descemos para jantar não iamos com boa cara. A rapariga no restaurante achou tão estranho só pedirmos sopa que nos perguntou se tinhamos estado a fumar. Tivemos de nos rir e lá explicámos à rapariga o quê que se tinha passado de facto.
A praça onde o hotel fica deve ser das mais animadas à noite em Amsterdão e percebemos o porquê de um quarto com poucas condições como o nosso ser tão caro.
Na manhã seguinte antes de sairmos do hotel fomos saber se nos devolviam o dinheiro. Só nos deram metade do dinheiro da noite... O dia não começava bem e ia-se prolongar. Decidimos ir de eléctrico até à estação. Demorámos bastante tempo e perdemos o comboio. Felizmente havia outro 1 hora depois e continuavámos a puder fazer as outras ligações. Fomos de Amsterdão até Bruxelas e de Bruxelas para Paris. Em Paris tinhamos algum tempo e fomos tratar de almoçar. Decidimos tabém comprar uns chocolates para trazer. Só não nos lembrámos que mudar de estação em Paris é uma complicação. A pessoa anda quilómetros dentro da estação para chegar ao metro, depois é um sem fim de estações de metro e depois mais uns quilómetros a andar dentro da estação para descobrir a plataforma certa. Excusado é dizer que perdemos o comboio para Bordéus, onde tinhamos de mudar para Irún. Felizmente o comboio que saí de Paris directo a Irún não ia cheio e deu para virmos nesse. Em Irún tornámos a mudar de comboio. Foi o nosso último comboio. Desta vez decidimos viajar confortavelmente e ficámos em beliches. O compartimento era para 6, mas só vinha um senhor connosco. A noite passou-se lindamente, foi uma viagem sem problemas. Chegámos ligeiramente atrasados, mas isso já era de esperar.
E pronto, estávamos de volta. Chega assim ao fim o relato da nossa viagem. Tenho a dizer que o dente nunca chegou a doer...

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